sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Um ano de guerra: quais os impactos para a economia mundial?

Conflito entre Rússia e Ucrânia permanece impactando preços de commodities, inflação e impulsionando as chances de uma recessão global

Luciano Feres, economista e CFO
da Somus Capital

Divulgação

No dia 24 de fevereiro de 2022, o mundo presenciou o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, classificada por alguns como o episódio de “maior insegurança na Europa desde a Guerra Fria”. As relações entre os países já estavam estremecidas desde a anexação da Crimeia ao território Russo, em 2014. Mas, além das consequências geopolíticas, as sequelas econômicas da guerra tomaram proporções mundiais.

Ambos os países possuem uma parcela significativa na exportação de commodities para Europa e o mundo. A Rússia é a principal responsável pela exportação e o segundo maior produtor de gás natural no mundo. Já a Ucrânia é responsável por 12% das exportações de trigo e por 15% das exportações de milho. Somando-se a Rússia, o país do leste europeu detém uma fatia significativa do comércio mundial de grãos: Trigo (30%), milho (17%), cevada (32%) e óleo, sementes e farelo de girassol (50%).

A Rússia, caracterizada como uma das maiores fornecedoras de commodities para a Europa, responsável por 40% da distribuição de gás natural na região, sofreu embargos econômicos severos por conta da invasão ao território ucraniano. No entanto, tendo o poderio de envio de suprimentos, conseguiu pressionar países europeus neutros, gerando uma explosão inflacionária na Europa Ocidental.

Para Luciano Feres, economista e CFO da Somus Capital, o mercado financeiro como um todo foi impactado: “Esse conflito traz escassez no mercado, seja por embargos ou por outros problemas. Com isso, observamos um aumento grande nos preços. Esse aumento acaba impactando a cadeia como um todo. As commodities são o primeiro produto na cadeia de produção e alimentação, consequentemente, o impacto acaba espalhando por quase todos os setores econômicos. O temor de uma briga nuclear também deixa o mercado muito estressado, resultando em investidores procurando ativos mais seguros e líquidos esperando pelo pior”, comenta.

 

Os primeiros impactos da guerra nos mercados financeiros

Os reflexos da guerra começaram a surtir efeito antes mesmo dos conflitos iniciarem. A tensão entre as nações existe desde 2014, quando a Rússia anexou o território da Criméia. Esses fatores políticos já davam sinais de um estresse financeiro e, com isso, investidores globais foram migrando ativos em busca de segurança e liquidez fora do eixo Rússia-Ucrânia.

“Muitos compradores de commodities, desde o início da guerra, começaram a realizar hedge ou procurar produtos fora desse nicho, inclusive pagando mais caro, nesse momento era o começo da inflação nos commodities no mundo”, afirma Feres.

A partir do cenário descrito, Europa ocidental e Rússia em crise, com alta na inflação e o consumo caindo, toda cadeia de produção, tendo a Europa como um grande consumidor, foi afetada. Ao mesmo tempo, a China voltou a abrir suas fronteiras para o comércio e a alta na inflação nos Estados Unidos indicou que existiam chances do mundo passar por uma recessão. 

Quais foram os efeitos da guerra no Brasil?

“Analisando com um viés econômico, o Brasil se posicionou estrategicamente em sua declaração de neutralidade na guerra. Nosso país possui grande parte do PIB comprometido em commodities, tendo forte parceria com Rússia - importando diesel e minérios; e com a Ucrânia - importando fertilizantes e cereais. Com a posição neutra, o Brasil conseguiu manter as parcerias fundamentais”, diz o economista.

A economia brasileira também se beneficiou “ganhando espaço" em mercados internacionais, exportando commodities para países que utilizavam insumos russos e ucranianos, impossibilitados de negociar desde o início do conflito. Em paralelo, o problema de logística e inflação mundial nas commodities fizeram os valores dos produtos brasileiros registrarem alta de preços, gerando melhores resultados para as empresas e indústrias nacionais.


As “soluções” econômicas para o fim da guerra 

Ambas as nações estão sofrendo as consequências do confronto. A Rússia está sob fortes sanções econômicas, sofre com uma falta de oferta de produtos em toda a sua cadeia e convive com uma inflação descontrolada, com sua moeda chegando a perder quase todo o valor. Já a Ucrânia tem, quase em totalidade, a guerra em seu território; cidades sem luz, sem gás e sem água; exércitos travando batalhas no meio de cidades fazem a economia praticamente parar em alguns pontos. O Banco Mundial estima que o país deva perder 35% da sua economia em 2022, sem contar o custo da reconstrução.

O que podemos observar de interessante é a habilidade russa em conseguir se adaptar aos embargos impostos. A partir desse cenário, criar novas parcerias econômicas com China, Índia, e países do oriente médio seria uma saída estratégica para o país. A Ucrânia tem a esperança de reconquistar seus territórios com ajuda bélica de outros países, o que vem acontecendo lentamente, a produção de grãos e fertilizantes ainda consegue ser importante e oferece uma sobrevida ao país, mesmo que seja em um ritmo baixo”, finaliza Luciano.

Sobre a Somus Capital

A empresa é especializada em assessoria de investimentos credenciada pela XP Investimentos, tendo sob custódia mais de R$1,3 bilhões. Luciano Feres, CFO da empresa, é economista e especialista em mercados financeiros, tendo sido eleito duas vezes consecutivas (2020 - 2021) um dos Top 10 melhores assessores de investimentos do Brasil, segundo a XP Investimentos.

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